Finis Africae traz Negrete para versão de “Eu Sei”

Surgida na mesma década oitentista em que a Legião Urbana apareceu na cena musical brasileira, a banda Finis Africae – também originalmente lançada pela EMI – esta presente com “Eu Sei”, uma faixa que é a bonus track do CD Rádio Interprete – Lançamentos. O disco foi produzido para homenagear Renato Russo e traz novos intérpretes regravando obras de sua autoria.

Finis Africae emplacou hits como “Ética”, “Van Gogh”, “Armadilha”, “Deus Ateu” e “Mentiras”. O ano de 1986 começou bem, com o lançamento de um EP. A EMI fechou o contrato e colocou o primeiro LP nas prateleiras, no ano seguinte. Após o sucesso de “Armadilha” nas rádios, em 1986, a banda continuou o caminho ao longo dos anos.

Eduardo de Moraes (vocal) e Ronaldo Pereira (bateria) são destes integrantes que acompanharam a maioria das formações, desde o surgimento. E são eles que contam como surgiu a rara gravação – que ainda contém a participação do saudoso Renato Rocha, o Negrete, baixista da formação clássica da Legião.

“No final do ano passado, mexendo em meus velhos CDRs, achei a gravação. Claro que me lembrava dela, mas achava que estivesse bem ruim e não podia ser aproveitada”, explica o baterista e produtor Ronaldo Pereira. “Em 2001 Negrete fez uns shows com a gente, no Rio e em Brasília. Foi a última tentativa de voltar com a Finis Africae”, relata Ronaldo. Já Eduardo relembra  outros momentos com o amigo. ”Houve uns dois shows dele como convidado. Logo depois Roberto Medeiros, nosso baixista, decidiu se mandar pros Estados Unidos, aí formalizamos o convite e Negrete topou integrar a trupe. Vale dizer que tive um grupo com ele antes dele entrar para a Legião Urbana, chamava-se Hosbond Cama, nome dado pelo nosso baterista, Manuel Antônio Fragoso, vulgo Totone – que depois foi para o Escola de Escândalos”.

Negrete se encontrou com Eduardo de Moraes, e foi um casamento perfeito, quando a banda precisava. “Um dia fui almoçar em Barra de Guaratiba e depois de estacionar o carro veio um cara forte de óculos escuros e quepe sorrindo e falando: E aí Eduardo? Não se lembra mais de mim? Desnecessário dizer que ele estava irreconhecível e me deixou um tanto sem graça. Quando ele percebeu que eu não sabia o que dizer, tirou os adereços e depois de abraçá-lo, rimos um bom tempo juntos”, descreveu Eduardo.

“Sempre me amarrei muito no Negrete, na pessoa e no músico. Suas linhas de baixo sempre foram fantásticas. Quando aconteceu este encontro foi uma festa. Eu ainda tinha o Estúdio Groove na época, então fazíamos som por horas e horas seguidas”, explica Pereira. “O Finis Africae surgiu da platéia da Legião. Me lembro bem de eu e Neto (ex-baixista) pulando e cantando as músicas da Legião, ainda nos primeiros shows, em 1982. Saíamos encharcados de suor, cansados, mas muito felizes. O Renato era mágico no palco”, conclui o baterista.

Renato Russo foi quem recomendou a banda para ser contratada pela diretoria da EMI. E quase produziu o segundo disco. “Chegamos a ter duas reuniões a respeito deste projeto, mas infelizmente ele tinha compromissos demais com a Legião e não houve tempo para produzir”, recorda Ronaldo. “Renato era um entusiasta do rock brasiliense, parecia sentir orgulho das bandas de lá. Natural, era uma pessoa influente e solidária e se sentia um tanto pioneiro. Chegou a me emprestar um amplificador para ensaiar num tempo que tinha um grupo (Objetos Oblíquos) junto com Paulo Paulista. Indicava novos grupos para ouvirmos, enfim, era um cara participativo, mas raro de se ver”, relembrou Eduardo.